segunda-feira, 23 de abril de 2012

João de Deus S.A.
Médium João Teixeira de Faria, conhecido até no exterior, reúne fiéis para cirurgias espirituais e passes em Goiás; fé move montanha de dinheiro

Alan Marques/Folhapress
O médium conhecido como João de Deus durante atendimento espiritual
O médium conhecido como João de Deus durante atendimento espiritual
 
CATIA SEABRA
ALAN MARQUES
ENVIADOS ESPECIAIS A ABADIÂNIA (GO)
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA


Em Abadiânia, a fé move montanhas. De dinheiro. Atraídos pelo dom do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, cerca de 3.000 fiéis visitam, semanalmente, a Casa Dom Inácio de Loyola, em Goiás.
Em uma casa azul e branca, a 79 km de Goiânia, ilustres e anônimos passam pelas mãos de João de Deus -ou John of God, como é conhecido no exterior- para realização de cirurgias espirituais e também passes.
A história de João, que teve sua primeira visão aos oito anos, já foi tema dos programas da americana Oprah Winfrey e da Xuxa. No mês passado, Oprah -uma das maiores celebridades da TV dos EUA- veio ao Brasil para entrevistar o médium, filho de um alfaiate com uma dona de casa. 

Hoje, aos 69 anos, João de Deus é dono de pelo menos uma fazenda de 597 alqueires -o correspondente a 18 parques como o do Ibirapuera (zona sul de São Paulo)- na divisa de Goiás com Mato Grosso. Lá, uma propriedade dessa dimensão não vale menos do que R$ 2 milhões. O médium tem o garimpo como fonte de renda. 

CALMANTE
Apesar de o atendimento ser gratuito, a casa, fundada em 1976, conta com farmácia de manipulação, livraria, lanchonete e loja de cristais benzidos pelo médium. Até a água fluidificada tem valor agregado. A garrafa custa R$ 1. Energizada, vale R$ 3. 

O grosso do dinheiro arrecadado vem da venda de frascos de passiflora, calmante natural fabricado pelo grupo. Organizados em fila conforme a assiduidade na casa, os consulentes recebem do médium uma receita, expressa num rabisco, para consumo de três comprimidos por dia como complemento ao tratamento presencial. 

O frasco, com 175 cápsulas, custa R$ 50. Como a média de atendimento é calculada em mil pessoas por dia, três vezes por semana, a receita com a venda pode chegar a R$ 500 mil ao mês.
Embora traga as inicias de João Teixeira Faria, a Farmácia de Manipulação JTF Ltda, que comercializa o remédio, está registrada em nome da mulher, Ana Keyla Teixeira, 33, e de seu motorista e caseiro Abadio da Cruz, 41. 

Procurado, Abadio disse trabalhar com João de Deus há 17 anos, mas mostrou desconhecer a rotina da farmácia da qual figura como sócio. Diante da insistência da Folha em saber o motivo de sua presença na empresa, ele desligou o telefone. 

"Não posso dar informação sobre isso", repetiu quatro vezes para a reportagem.
O complexo oferece ainda sete cabines de banho de cristal -camas em que pacientes passam por imersão de luz. O preço cobrado é de R$ 20 por 20 minutos de sessão.
Relatos sobre procedimentos do médium, que incluem cirurgias com corte, a depender da escolha do consulente, garantiram-lhe notoriedade internacional. 

ATENDIMENTO
Descalço e vestido de branco, João atende aos visitantes às quartas, às quintas e às sextas. Também de branco, consulentes, boa parte deles estrangeiros, passam por uma triagem para fila de atendimento: primeira vez, segunda vez, revisão... 

O médium dedica outros dias da semana a visitas a enfermos. Foi assim com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo relato de petistas, durante seu tratamento contra o câncer na laringe. Em entrevista à "TV Folha" no mês passado, Lula disse que foi procurado por João de Deus e por outros religiosos e que é "muito agradecido" por toda a ajuda que recebeu no período em que esteve doente. 

Em uma sala contígua ao salão de atendimento, João ostenta uma foto autografada de Lula, outra do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e uma do ex-ministro Nelson Jobim.
Num pátio de acesso ao salão, vídeos exibem cenas de intervenções com corte, a maior parte no olho e na barriga. Num deles, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) aparece como "
instrumentador" da cirurgia. 

APARTAMENTOS
Em Abadiânia, João de Deus é proprietário ainda de cinco apartamentos, alugados, cada um, a R$ 1.000 por mês ou R$ 90 por dia. Os imóveis estarão ocupados pelos próximos três meses. 

A hospedagem é também fonte de renda de seus apóstolos. Pelo menos seis voluntários da casa -incluindo dois tradutores, dois encarregados do acompanhamento do médium e a responsável pela triagem de visitantes- são proprietários de pousadas vizinhas. Um dos coordenadores é ainda dono do ponto de táxi.
A diária custa, em média, R$ 90 por pessoa em apartamento compartilhado, de modestas acomodações. Já a corrida de táxi da casa até Brasília custa R$ 180. 

Os negócios do médium, contudo, não se resumem a Abadiânia. Nos anos 1990, chegou a ser sócio de um bingo em Goiás, na época em que o jogo era legal. Hoje, é sócio do filho em uma clínica odontológica.
Mas sua principal atividade paralela é a mineração de ouro.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Trio suspeito de canibalismo é preso em PE


Segundo a polícia pernambucana, acusados confessaram ter matado e comido parte dos corpos de ao menos 3 mulheres
Suspeito escreveu livro narrando detalhes do que teria sido um dos crimes; eles disseram fazer parte de uma seita
DANIEL CARVALHO
DE SÃO PAULO


Uma história que inclui mortes em série, canibalismo e ocultação de cadáveres chocou Garanhuns, no agreste pernambucano.

A Polícia Civil prendeu anteontem três pessoas suspeitas de matar, esquartejar, comer e enterrar partes dos corpos de ao menos três mulheres. O trio confessou os crimes, segundo a polícia.

Os suspeitos moravam juntos e tiveram a casa incendiada ontem, o que pode prejudicar as investigações.
Os detalhes do primeiro homicídio foram contados em um livro de 48 páginas escrito e registrado em cartório por um dos suspeitos, Jorge Negromonte da Silveira, 51.

Ele é casado com Isabel Cristina Torreão Pires da Silveira, 51, e amante de Bruna Cristina Oliveira da Silva, 25.

Uma menina de cinco anos vivia com eles e presenciou os dois crimes mais recentes, segundo a polícia. Ela seria filha da primeira vítima, Jéssica, morta em 2008, em Olinda (PE), aos 17 anos.

Jorge teria usado o nome do irmão para registrar a criança como sua filha na Paraíba.
Em depoimento, os suspeitos disseram que, um ano após a morte de Jéssica, jogaram seus ossos em um terreno baldio. A polícia acredita que eles não serão achados.

Segundo a polícia, a família de Jéssica confirma que a jovem e sua filha estavam desaparecidas desde 2008.
LIVRO

No livro, a amante de Jorge, Bruna, aparece com o nome de Jéssica, porque assumiu a identidade da vítima.
"Ao olhar para o corpo já sem vida da adolescente do mal, sinto um alívio. Pego uma lâmina e começo a retirar toda a sua pele, e logo depois a divido. Eu, Bel e Jéssica nos alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e o resto eu enterro no nosso quintal", diz um trecho.

Segundo a polícia, o texto foi registrado em 28 de março deste ano com o título "Revelações de um esquizofrênico".

Anteontem, a polícia encontrou os corpos esquartejados de Gisele Helena da Silva, 31, e Alexandra Falcão, 20, enterrados no quintal da casa dos suspeitos, em Garanhuns. As duas tinham desaparecido no começo do ano.

Para atrair as vítimas, o trio oferecia um emprego de babá, segundo a polícia.
O delegado Wesley Fernandes chegou aos suspeitos após eles usarem o cartão de crédito de Gisele. "Inicialmente eles negavam o tempo todo, mas a criança falou. Ela viu tudo. Contou detalhes. Disse que o pai tinha mandado elas para o inferno."

Depois que a menina falou, Isabel indicou onde estavam os corpos, diz a polícia. Segundo o delegado, os três contaram que retiraram o coração e o fígado das duas mulheres e que comeram os fígados.
Em depoimento, os suspeitos disseram fazer parte de uma seita chamada Cartel. "Eles escolhiam as vítimas sob comando de uma entidade [espiritual] que dizia que as vítimas não prestavam e estavam superpovoando a Terra", disse o delegado.

Os três estão presos e, segundo a polícia, ainda não têm advogado.